Anestésicos e sedativos, usados em procedimentos com anestesia e em pacientes entubados, estão em falta em diversos Estados do país
Um problema que foi abordado pela reportagem da Rádio Alto Uruguai, há duas semanas, após alerta da administração do Hospital de Caridade de Três Passos, tem começado a afetar todo o Rio Grande do Sul nas últimas semanas. Sem conseguir comprar ou receber medicamentos sedativos e anestésicos – usados em procedimentos com anestesia e em pacientes intubados –, hospitais têm passado a restringir cirurgias eletivas, que são aquelas consideradas não urgentes.
O hospital de Três Passos não está realizando cirurgias eletivas nos últimos meses, concentrando seus esforços e insumos para urgências e emergências. A administradora, Leila Bender, relata que há uma redução na oferta de sedativos que são utilizados, especialmente para pacientes entubados – tanto pacientes que tenham sido diagnosticados com Covid-19, quanto para pacientes com outras patologias.
No Hospital Vida e Saúde, de Santa Rosa, único do município e referência para mais de 70 cidades da região, alguns medicamentos estão em falta, e outros, com estoque baixo. Até entregas programadas estão sendo suspensas pelas empresas. A diretora geral da instituição, Vanderli de Barros, diz não saber como vai ser a regularidade do fornecimento para poder manter o estoque aos pacientes que precisam de ventilador ou de cirurgias de emergência.
Também na região Noroeste, o Hospital de Caridade de Ijuí está com as cirurgias eletivas suspensas a partir desta semana – com exceção dos procedimentos que envolvem pacientes oncológicos e cardiopatas. Como em outros casos, os fornecedores consultados dizem que não têm os medicamentos a pronta-entrega. No Hospital de Clínicas de Passo Fundo, as cirurgias eletivas ainda são realizadas, mas em ritmo mais lento, com determinadas áreas sendo priorizadas a cada semana.
Um levantamento feito pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde em todo o país identificou que há falta de medicamentos. São sedativos, anestésicos, bloqueadores neuromusculares e medicamentos adjuvantes na sedação, utilizados na intubação e na manutenção da intubação. No Estado, dentre 22 medicamentos pesquisados, dois estavam em falta. Outros dois tinham estoque para entre dois e quatro dias, e outros dois, entre 12 e 18 dias. O levantamento leva em conta os hospitais incluídos no Plano de Contingência estadual.
Questionada, a Secretaria Estadual de Saúde informou, em nota, que a responsabilidade de compra é dos próprios hospitais junto aos fabricantes e distribuidores. A pasta destacou que, neste momento de pandemia, foi identificada uma dificuldade de aquisição em nível nacional. A informação recebida é de que o Ministério da Saúde fará uma licitação para suprir a carência de forma emergencial. Já o Ministério da Saúde disse, em nota, que está realizando conversas com laboratórios e entidades e que conta com o apoio do Ministério da Defesa para identificar o problema.
A Federação das Associações de Municípios do RS (Famurs) e a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Estado também divulgaram nota manifestando preocupação com a questão. Conforme as entidades, a utilização dos sedativos em UTIs nos últimos três meses equivale ao total aplicado em 2019, e a aquisição é prejudicada pela alta demanda e pela elevação de preços.